De uma forma simplista, a osteoartrite não é mais que uma dor articular associada a uma diminuição/perda de função ou movimento.
No entanto, estudos recentes demonstram que a osteoartrite deve ser analisada numa vertente mais global/holística, em que vários fatores biopsicossociais – a genética, a personalidade, o comportamento, o contexto socioeconómico e familiar, entre outros fatores – podem provocar processos inflamatórios que originam dor e disfunção articular. Alguns dados estatísticos suportam esta teoria: dois em cada três pessoas com osteoartrite no joelho e anca apresentam outras doenças diagnosticadas, como a hipertensão arterial, a diabetes tipo II e a depressão. Desta forma, salienta-se a importância de evitar, primeiramente, uma intervenção cirúrgica, tendo em conta que a causa da doença não é apenas física.
A Fisioterapia é considerada uma intervenção não cirúrgica de 1ª linha, ajudando na prevenção de cerca de 35 doenças crónicas e melhorando a sintomatologia de outras 26, sendo a mais importante abordagem nos casos de Osteoartrite do joelho e anca.
Inúmeros estudos têm revelado a importância do papel do Fisioterapeuta nestas condições pois, ao associar uma vertente física e educacional, a sua intervenção torna-se diferenciadora, ou seja, para além de proporcionar diminuição dos sintomas físicos – aumento do movimento e alívio da dor semelhante à utilização de analgésicos, não tendo efeitos secundários – contribui ainda na adesão e motivação ao tratamento.
Características da intervenção da Fisioterapia
Defende-se que num plano de intervenção, os procedimentos/exercícios deverão ser individualizados, estando de acordo com os objetivos e preferências ou necessidades de cada paciente. Além disso, o Fisioterapeuta deve contemplar uma frequência de sessões adequada, de modo a obter melhorias significativas numa fase inicial. Consoante a colaboração e motivação do paciente, poderá implementar-se um modelo mais educacional, com sessões mais esporádicas, com o objetivo de manter os resultados ao longo do tempo.
Se este método não for suficiente na obtenção de resultados satisfatórios, o Fisioterapeuta poderá optar por utilizar outros procedimentos (como a terapia manual) ou o aconselhamento de ortóteses.
1. Importância do Exercício e de uma intervenção individualizada na Osteoartrite
Em termos gerais, a atividade física é importante na manutenção da saúde e bem-estar destes pacientes.
Como já referido anteriormente, em situações de dor leve/moderada, a Fisioterapia apresenta um efeito semelhante aos fármacos, no que diz respeito ao alívio da dor, permitindo assim o aumento do movimento.
É importante informar o paciente que o aumento da dor é considerado normal, quando se inicia um exercício ou em atividades diárias frequentes, como no treino de levante (sentar/levantar de uma cadeira). Salienta-se então que a dor não é sinónimo do aumento do desgaste da cartilagem, mas o efeito normal de quando expomos o corpo a uma atividade física regular, mesmo em pessoas sem patologia.
Com a frequência das sessões, o corpo adapta-se e a dor diminui, podendo desaparecer após 5-6 semanas de exercício. Em pacientes que referem dor severa e que aguardam artroplastia (colocação de prótese), 95% das sessões pré-cirúrgicas são realizadas com níveis de dor considerados moderados/suportáveis.
Também em situações de artroplastia, está comprovado que pacientes que tenham realizado sessões de Fisioterapia antes da cirurgia, têm uma recuperação pós-operatória mais rápida e efetiva.
Quando os pacientes respondem ao exercício, ou seja, quando há um aumento da força muscular e da funcionalidade, o Fisioterapeuta deverá aumentar o nível de progressão dos exercícios, podendo existir alguns ajustes individuais para potenciar os resultados.
2. Importância da Educação
Cada vez mais, é importante que o Fisioterapeuta torne o paciente mais autónomo, de modo a que este se sinta também responsável pela sua recuperação, contribuindo para o aumento da sua adesão e motivação ao tratamento. Por isso, estes profissionais devem incorporar esta vertente mais educacional na sua intervenção, isto é, devem dar informações sobre as causas, os fatores de risco e as características da doença, a importância da atividade física e as consequências da inatividade, os tratamentos eficazes e não eficazes, as estratégias de adaptação à doença. Assim, os pacientes adquirem competências, quer para lidar com a dor e incapacidade inerentes à doença, quer para implementar níveis de atividade física na sua rotina diária, de forma prolongar os efeitos ao longo do tempo.
Alguns estudos indicam que a educação, isoladamente, tem poucos benefícios, mas combinada com o exercício, tem efeitos significativos em pacientes com osteoartrite. Por exemplo, demonstrou-se que existe uma redução em 44% na indicação de pacientes para artroplastia da anca, em comparação com pacientes que apenas tenham tido a componente educacional.
Se tem osteoartrite ou se conhece alguém a quem tenha sido diagnosticada, esta publicação justifica a importância da Fisioterapia na sua qualidade de vida. Se necessitar de acompanhamento nesta área, contacte-nos.
Elaborado por Fisioterapeuta Vanessa Figueiredo - OF nº 94
Fontes:
Skou, S. T., & Roos, E. M. (2019). Physical therapy for patients with knee and hip osteoarthritis: supervised, active treatment is current best practice. Clinical and Experimental Rheumatology, 37(5), 112–117.
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